segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Andando pela rua, conversando com pessoas, analisando relacionamentos, tudo o que vejo é o mesmo: gente correndo sem saber por quê, nem onde vai dar. Resistem à felicidade simples em troca de alegrias cada vez mais superficiais e satisfações que se tornam gradativamente menos alcançáveis. Uns outros se esquivam, se escondem. Ou vagam por aí - por qualquer lugar - com um olhar sem brilho, desfocado e vazio, que só limita seu campo de possibilidades.
Isso porque ser simples chega a ser crime. Todo um sistema invisível dita repetidamente o que seria melhor que você fizesse para que ele não caia. Não adianta fugir, ele é um sol intenso que nunca se põe e está sempre por perto, aumentando o brilho, empobrecendo a cor, diminuindo ou aumentando o contraste que ele mesmo criou. Difícil é não ficar cego ou no mínimo ter a visão distorcida.
Modos de vida são forjados, desejos vão sendo criados. E, para aquela parcela que observa, mas que também participa desse cenário, fica a dúvida do que é afinal essa nova realidade (logo aqui, tão à parte do bem e do mal), e se há ainda espaço para os velhos sonhos, os sorrisos gratuitos e a falta de culpa, suficientes e absolutos pelo que eram e poderiam se tornar.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sentimento de fim de férias

Para muitos, os dias sem trabalho ou aulas em julho/agosto compõem um simples e breve recesso. Para mim é o suficiente para realizar uma longa inspiração, mas só uma, porque, quando se expira, já é "segunda-feira" e os afazeres retornam com toda força. Mas a longa inspiração teve um sentido diferente para mim dessa vez: essas foram minhas primeiras férias vindas de Niterói.
Sentir-se em casa é muito mais que estar em casa. Antes de sair daqui, na minha vida particular, as duas coisas eram praticamente o mesmo e vinham necessariamente juntas. Hoje sei que há lugares diferentes, muitas vezes sem telhado, tão familiares que se tornam um lar íntimo, ao passo que estar em casa pode trazer claustrofobia. E, tendo consciência dessa notável diferença, é realmente bom poder conciliar os dois! Como senti falta do aconchego do meu próprio quarto, de ficar zappeando, dormir no sofá, andar de toalha pela casa, comer comida saudável e gostosa de mãe, ouvir som alto e cantar também alto sem se importar com vizinhos, simplesmente ficar à toa... e me sentir confortável e sem culpa. Não, isso não é típico de férias, mas de férias em casa (e não por falta de opção).
Como é gostoso sair às ruas e perceber que o que me incomodava é agora fonte da mais pura liberdade! Os pássaros chilreando de um jeito tão similar a todos os outros dias no entardecer, as formas que parecem congelar-se por um instante, o som de uma bicicleta que abala suavemente a inércia, quase me levando... Poder atravessar à rua e arriscar não olhar para os lados ou até andar no meio dela e chutar pedrinhas. Ir a sorveterias self-service, pagar R$3 de meia-entrada no cinema na quarta-feira, assoviar ou cantarolar por aí. Andar à noite e poder sentir o sereno sem se preocupar muito se alguém vai vir te roubar, andar pela manhã e ter pensamentos de orvalho, fazer qualquer coisa à tarde. Ter cerca de 150 sabores de milk-shakes para escolher. Ficar com frio e não se agasalhar, querer sentir os pêlos arrepiarem, os queixos baterem, o nariz congelar, só para captar a vida nisso e notar que o frio daqui é diferente do de lá - nem melhor, nem pior, apenas diferente - e tão especial. Estar sozinha e não se sentir sozinha.
E o que resta em mim é esse sentimento de fim de férias: não mais de arrependimento por não ter me divertido o quanto gostaria ou descansado o quanto deveria ou frustração por estar de volta à nova velha rotina, mas de satisfação por ter feito exatamente o que quis.
É para cá que sempre quero poder voltar.